Ora caminhando nas nuvens, ora deitando com estrelas, me sinto compelida a te mandar, em beijos, esta carta, caro amigo Neruda. Queria que me ensinasse a descrever certas coisas, sabe, essas fumaças repentinas que surgem na nossa mente, mente de poeta; transformar o que o olho vê e a mente imagina em metáforas. Porque às vezes sinto que as nuvens continuam sendo nuvens, e as borboletas continuam borboletas, e meus textos continuam apenas um amontoado tosco de palavras.
Ah, poeta! Queria sentar aos teus pés e te ouvir, feito criança encantada com os sulcos fundos dos rostos senis. Queria que voltasse do sonho e me mostrasse o firmamento, apontando para algum brilho escondido não notado antes.
Pablo, meu príncipe, meu amigo, meu apanhador de sonhos, um cúmplice. Já não é mais segredo que te tenho em conta, e tu dormes ao meu lado, nas noites mais febris. Meu Pablo. Sei que posso tê-lo assim, pois que te vejo à minha frente, sorrindo, juvenil.
Me ensina?
Cristina Linardi
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